A Polêmica do Suco de Frutas para Bebês


O suco de frutas tem, historicamente, uma participação importante na alimentação infantil, tendo sido usado por pediatras como uma forma de oferecer maiores quantidades de vitamina C e líquidos ao bebê e crianças pequenas, devido à sua boa aceitação. Entretanto, há relatos de associação entre o consumo excessivo de suco e falha de crescimento, baixa estatura e obesidade, embora esses achados ainda precisem ser confirmados por mais estudos. A teoria de que o consumo de sucos naturais sem adição de açúcar possa causa sobrepeso em crianças ainda é controversa.
Auerbach e colaboradores (2017), em um estudo de meta análise recente (meta análise é um tipo de pesquisa em que se avalia estatisticamente os resultados de vários estudos publicados na literatura) encontraram um pequeno aumento de peso entre crianças menores de 6 anos que consumiam sucos, mas este resultado não teve uma relevância clínica à níveis individuais. Crianças entre 1 e 2 anos parecem estar mais suscetíveis ao aumento de peso. O tipo de suco consumido parece ter relação com o aumento de peso. Nos EUA, crianças menores que tendem a consumir mais suco de maçã possuem um aumento de IMC mais significativo do que as mais velhas, que dão preferência para suco de laranja em geral. Isso tem relação com a carga glicêmica dos sucos. O suco de maçã possui uma concentração maior de açúcar do que o suco de laranja.
Em um documento publicado agora em 2017, a Academia Americana de Pediatria limita o consumo de sucos na infância sob algumas justificativas que vou resumir aqui:
- Sucos de fruta não oferecem nenhum benefício nutricional para bebês menores de 1 ano de idade.
- Sucos de frutas não oferecem nenhum benefício nutricional em relação às frutas para bebês ou crianças e não desempenham papel essencial em uma dieta saudável e equilibrada.
- Sucos naturais sem adição de açúcar podem ser incluídos moderadamente como parte de uma dieta equilibrada em maiores de 1 ano, mas sucos industrializados não são equivalentes e não deveriam ser oferecidos.
- Sucos possuem um alto teor de carboidratos com baixo conteúdo de proteína, gordura e algumas vitaminas e minerais. Quando seu consumo é excessivo acabam reduzindo a ingestão de outros alimentos mais completos e podem contribuir para má nutrição, sendo associados algumas vezes com ocorrência de baixa estatura.
- O consumo de sucos, especialmente quando oferecidos na mamadeira, está relacionado ao aumento da ocorrência de cárie dentária, devido ao seu maior conteúdo de carboidrato.
- Seu consumo excessivo pode provocar diarreia, flatulência excessiva, gases e dores abdominais.
Segundo o Ministério da Saúde (2013), os sucos não devem ser utilizados como uma refeição ou lanche, por conterem menor densidade energética que a fruta em pedaços, especialmente durante a introdução alimentar, uma vez que a capacidade gástrica dos bebês é pequena. A Academia Americana de Pediatria recomenda que não mais que metade das porções de frutas recomendadas para crianças venham dos sucos, o que significa aproximadamente 120 a 180 ml ao dia para crianças de 1 a 6 anos e 240 a 350 ml ao dia para crianças acima de 7 anos. Bebês com menos de 1 ano não devem consumir sucos.
Do meu ponto de vista, como nutricionista, o motivo principal para contraindicar os sucos diz respeito à formação de hábito. E quanto mais cedo o suco é introduzido na vida da criança, mais ele vai estar enraizado em seu dia a dia. E eu vejo aí três problemas:
- Conforme a criança cresce, sua preferência por suco tende a aumentar (afinal ele é docinho e fácil de ingerir) e ela pede cada vez mais, tornando difícil controlar as quantidades.
- Há uma possibilidade grande dessa criança passar a preferir o suco à fruta, diminuindo consideravelmente seu consumo (quantas crianças não conhecemos que bebem muito suco e não comem nenhuma fruta?).
- Fora isso, à medida que a criança pede mais suco, vai ficando mais difícil para essa família manter o consumo de sucos naturais – quem tem tempo, não é verdade? – E o industrializado pode ir ganhando espaço.
É obvio que o suco não deve ser proibido, afinal, já vimos acima que ele pode fazer parte de uma dieta saudável e equilibrada em quantidades moderadas. Mas podemos deixar esse suco para ocasiões pontuais, evitando incluir no dia a dia da criança.
Portanto, o que eu tenho recomendado na minha prática profissional é priorizar o consumo das frutas, ao invés do suco, e não oferecer para menores de 1 ano. Após o primeiro aniversário, não incluí-lo na rotina alimentar, embora não exista problema em oferecer quando a criança estiver em uma festa ou num almoço em um restaurante, ou eventualmente num café da manhã mais caprichado do final de semana, quando toda a família consegue sentar-se junta e com mais tempo à mesa.
Referências
Brandon J. Auerbach; Fred M. Wolf; Abigail Hikida; Petra Vallila-Buchman; Alyson Littman; Douglas Thompson; Diana Louden; Daniel R. Taber; James Krieger. Fruit Juice and Change in BMI: A Meta-analysis. PEDIATRICS Volume 139, number 4, April 2017.
Cristina M. G. Monte1, Elsa R. J. Giugliani. Recomendações para alimentação complementar
da criança em aleitamento materno. Jornal de Pediatria – Vol. 80, Nº5(supl), pag. S131- S141, 2004.
Ministério da saúde. Guia alimentar para crianças menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica. Brasília – DF, 2013.
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