BLW: E se meu bebê engasgar?
Uma das dúvidas e preocupações mais frequentes entre as mães que tem interesse em aplicar o BLW é: mas e meu bebê não irá engasgar?
A verdade é que o risco de engasgo é real sim, porém tanto para bebês que comem sozinhos utilizando a metodologia BLW, quanto para bebês que tem a oferta assistida com papas. Podemos engasgar com qualquer alimento, seja ele líquido, pastoso ou sólido. Mas o medo vem da possibilidade de pedaços grandes se desprenderem do alimento oferecido em seu formato original e irem parar direto na garganta do bebê. Pode acontecer? Pode. É frequente? Não.
Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê.
A partir de determinada pressão, em determinado ponto da boca, todos nós (ou a grande maioria de nós) temos um reflexo protetor chamado “reflexo de gag”. Esse reflexo – muito similar a uma “ânsia de vômito” – é considerado protetor de vias aéreas inferiores, pois a partir de seu disparo, qualquer objeto estranho que não esteja sendo deglutido adequadamente vai ser trazido de volta para a frente da boca. A partir daí, ele pode ser mastigado novamente, reiniciando-se a deglutição, ou devidamente cuspido pra fora da boca. Sendo assim, o Gag é considerado como um importante recurso fisiológico do corpo para prevenir o engasgo.
É óbvio que o reflexo de gag é disparado muito mais vezes quando o bebê está manipulando um alimento sólido. Isso porque, como qualquer outro reflexo, o gag depende de uma determinada pressão em determinado ponto da boca, para ser ativado. Pois bem, pedaços maiores exercem maior pressão nesses pontos específicos do que colheres de purê ou líquido, que se dispersam na boca. Então, embora a frequência do disparo do reflexo esteja aumentada, não há com o que se preocupar, pois o reflexo está agindo justamente na “campanha anti-engasgo”. É provável, por exemplo, que seu bebê tenha mais engasgos com líquidos do que com os sólidos, já reparou nisso? Sim, pois o gag não consegue ser ativado a tempo suficiente antes que o líquido “escorra pelo lugar errado”.
Alem disso, a natureza, sábia como é, fez os bebês com um reflexo de gag bem anteriorizado em relação aos adultos. Isso está relacionado à capacidade do bebê para engolir e digerir alimentos sólidos. Ou seja, ter o gag presente é um bom sinal! Sinal de que os reflexos fisiológicos normais estão presentes e ajudando a proteger o seu bebê enquanto o corpo dele se prepara para receber os sólidos da maneira mais instintiva e natural possível!
Rapley, em seu best-seller “Baby led weaning”, teoriza ainda que, quando o bebê come sozinho, ele tem maior controle do que leva à boca. A autora discute que os riscos reais de engasgos são menores quando o bebê tem o controle da situação, pois quando é alimentado, quem o assiste pode frequentemente colocar a colher dentro de sua boca, ainda que o bebê não tenha a intenção de capturar o alimento da colher. Assim, a papa pode ser direcionada para o fundo da boca sem aviso e acabar causando o engasgo.
Confie no seu bebê. Suas habilidades motoras globais estão em perfeita sintonia com suas habilidades motoras orais.
Reflexo de Gag aos 6 meses
Reflexo de Gag aos 6 meses e meio
Reflexo de Gag aos 7 meses
Vale a pena também conferir a série de posts sobre mecanismos de proteção de via aérea:
- Tosse não é reflexo de gag. Reflexo de gag não é engasgo. E engasgo é coisa séria!! – parte 1
- Tosse não é reflexo de gag. Reflexo de gag não é engasgo. E engasgo é coisa séria!! – parte 2
- Tosse não é reflexo de gag. Reflexo de gag não é engasgo. E engasgo é coisa séria!! – parte 3
- Prevenindo o engasgo: a escolha do adulto faz toda a diferença
Confira meu Livro Digital – Prevenindo o Engasgo: A escolha do adulto faz toda a diferença
Referências:
Padovani AR, Medeiros GC, Andrade CRF. Protocolo fonoaudiológico de introdução e transição da alimentação por via oral (PITA). In: Andrade CRF, Limongi SCO (Org). Disfagia: prática baseada em evidências. São Paulo: Sarvier; 2012; p. 74-85.
PADOVANI, Aline Rodrigues, et al. Protocolo Fonoaudiológico de Avaliação do Risco para Disfagia (PARD). Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia [online], 2007, vol. 12, p. 199-205.
Mangilli LD, Moraes DP, Medeiros GC. Protocolo de avaliação fonoaudiológica preliminar. In: Andrade CRF, Limongi SCO (Org). Disfagia: prática baseada em evidências. São Paulo: Sarvier; 2012. p. 45-61.
Site http://www.babycenter.com/0_gagging-in-babies_9197.bc
Site http://www.livescience.com/34110-gag-reflex.html